Marquesa de Cadaval: o caso de uma mecenas muito especial
A Senhora Marquesa de Cadaval descende de uma antiga família da mais alta aristocracia europeia, profundamente envolvida no mecenato e no mundo musical. Entre os seus mais ilustres antepassados figuram não só Catarina da Rússia, mas também Frederico II da Prússia, o magnífico rei alemão – ele mesmo um bom músico, amigo de Johan Sebastian Bach e patrocinador de Carl Philip Emmanuel Bach que para ele trabalhou em Sans-Souci.
Impõe-se que mencionemos apenas alguns nomes da sua interminável galeria de amigos pessoais: Gabriele D’Annunzio, Marinetti, Giacomo Puccini (vizinho e pai de uma amiga), Nella Maïssa, Rei Humberto II, Maria José de Savoy, Eugénio Paccelli (futuro Papa Pio XII), Cole Porter, Maurice Ravel, André Malraux, Coco Chanel, René Huyghe, Arthur Rubinstein, Ygor Stravinski, Mstislav Rostropovitch, Ortega Y Gasset, Graham Green, Saul Bellow, Maurice Maeterlinck, Louise de Vilmorin, Imperador Franz Joseph (que ela designava como Il Kaiserone), Princesa Polignac, Henry Breuil, Kenneth Clark, Frau Cosima (filha de Liszt e viúva de Richard Wagner), Marconi, Olga Pratts, José Vianna da Motta, a família Freitas Branco – Luís, o compositor, Pedro, o maestro e João, o musicólogo –, Vitorino Nemésio, Virgínia Rau, Fernando Lopes Graça, Maria Germana Tânger. Por muito incrível que possa parecer, trata-se de uma lista deveras reduzida…
A Senhora Marquesa de Cadaval morreu em Lisboa, em 21 de Dezembro de 1996, tendo sido sepultada no mausoléu da família, no cemitério de Muge, perto de Salvaterra de Magos. O Festival de Sintra terá sido um dos grandes beneficiários do seu mecenato.
Tantas provas de carinho por parte da Senhora Marquesa de Cadaval, suscitaram a única atitude possível de perene gratidão de Sintra perante a memória de tão insigne figura. Em meados do ano 2000, por ocasião do fim das obras de total remodelação, do até então denominado Cine-Teatro Carlos Manuel, o Executivo Municipal decidiu instituir Dona Olga Maria di Robilant Álvares Pereira de Melo como patrona do novo Centro Cultural, um dos melhores auditórios de referência nacional que, a partir de então, ostenta na fachada o nome como era geralmente conhecida a Senhora Marquesa. A sua memória ocupa também um lugar especial nos nossos corações.
Mário João Machado